terça-feira, 7 de agosto de 2012

Querido Amigo

A madrugada se despede e, por trás das montanhas de nuvens, tal qual o sol, chegas radiante de luz e esplendor. Poderoso, viril, vens aquecer corpos e almas. Onde dormiste querido amigo? A quem cobristes com o teu calor, renovando a vida e os sonhos? A mulher frágil inveja a mãe natureza que todos os dias tem o mar como berço, adormece com a lua e acorda beijada pelo sol. Hoje, deixo as brumas da noite e qual uma flor molhada de orvalho, estou pronta para te receber. Faz tanto tempo que não acordas ao meu lado! Misturando sonho e realidade, estendo meus braços procurando teu corpo aquecido pelos lençóis e encontro um espaço vazio, onde minhas mãos tateiam na busca inútil do toque. Como em tantas outras madrugadas, sou a mesma mulher úmida que cobria de beijos o teu corpo, despertando a fera adormecida que trazias contigo. E o embate se dava, deixando-nos suados, corações acelerados. Era uma batalha onde a paixão e o desejo disputavam o hoje, como se nunca mais houvesse amanhã. Eis que a realidade do momento me desperta os sentidos, me acorda, me desmancha, deixando-me ardente e solitária. Que saudades meu querido e amado companheiro! Foste um homem múltiplo, tanto no ser como no ter. Por isso, em vez de chorar a tua ausência eu me conformo em lembrá-la, trazê-la de volta para mim. A vida, um dia, qual mulher invejosa te roubou, levando-te para bem longe, talvez numa distância onde sejam precisos anos luz para alcançar-te. Acovardo-me e confesso não ter forças para lutar. Prefiro permanecer plantada qual árvore frondosa enraizada no chão. Ainda sou forte e tenho sombra e seiva para ofertar-te, se um dia voltares. Aqui, além dos sonhos, tenho o nosso velho amigo – o mar, que tantas vezes nos abraçou misturando corpos e desejos. Como fomos primitivos na loucura da paixão. Quantas insensatez cometemos. O amor nos cegou, levando-nos por caminhos de sal e sol, mas é este amor que ainda hoje permanece em nós. Sim. Tenho certeza. Não foi um amor uno, só meu, ele foi e é nosso. Tanto amaste como te deixaste amar. Assim, a mulher vivida pelo tempo não se deixa abater. No meu coração é sempre primavera, a estação do amor. Durmo e nos meus sonhos estás comigo, nas minhas alegrias e tristezas. Marcaste-me o corpo e a alma como tatuagem. Podes ficar certo querido amigo, as tuas marcas morrerão comigo, assim como as lembranças dos teus beijos e o calor do teu corpo na cumplicidade da alma. Saudades de tudo ou de nada. Recife. Out/04.