terça-feira, 7 de agosto de 2012

Querido Amigo

A madrugada se despede e, por trás das montanhas de nuvens, tal qual o sol, chegas radiante de luz e esplendor. Poderoso, viril, vens aquecer corpos e almas. Onde dormiste querido amigo? A quem cobristes com o teu calor, renovando a vida e os sonhos? A mulher frágil inveja a mãe natureza que todos os dias tem o mar como berço, adormece com a lua e acorda beijada pelo sol. Hoje, deixo as brumas da noite e qual uma flor molhada de orvalho, estou pronta para te receber. Faz tanto tempo que não acordas ao meu lado! Misturando sonho e realidade, estendo meus braços procurando teu corpo aquecido pelos lençóis e encontro um espaço vazio, onde minhas mãos tateiam na busca inútil do toque. Como em tantas outras madrugadas, sou a mesma mulher úmida que cobria de beijos o teu corpo, despertando a fera adormecida que trazias contigo. E o embate se dava, deixando-nos suados, corações acelerados. Era uma batalha onde a paixão e o desejo disputavam o hoje, como se nunca mais houvesse amanhã. Eis que a realidade do momento me desperta os sentidos, me acorda, me desmancha, deixando-me ardente e solitária. Que saudades meu querido e amado companheiro! Foste um homem múltiplo, tanto no ser como no ter. Por isso, em vez de chorar a tua ausência eu me conformo em lembrá-la, trazê-la de volta para mim. A vida, um dia, qual mulher invejosa te roubou, levando-te para bem longe, talvez numa distância onde sejam precisos anos luz para alcançar-te. Acovardo-me e confesso não ter forças para lutar. Prefiro permanecer plantada qual árvore frondosa enraizada no chão. Ainda sou forte e tenho sombra e seiva para ofertar-te, se um dia voltares. Aqui, além dos sonhos, tenho o nosso velho amigo – o mar, que tantas vezes nos abraçou misturando corpos e desejos. Como fomos primitivos na loucura da paixão. Quantas insensatez cometemos. O amor nos cegou, levando-nos por caminhos de sal e sol, mas é este amor que ainda hoje permanece em nós. Sim. Tenho certeza. Não foi um amor uno, só meu, ele foi e é nosso. Tanto amaste como te deixaste amar. Assim, a mulher vivida pelo tempo não se deixa abater. No meu coração é sempre primavera, a estação do amor. Durmo e nos meus sonhos estás comigo, nas minhas alegrias e tristezas. Marcaste-me o corpo e a alma como tatuagem. Podes ficar certo querido amigo, as tuas marcas morrerão comigo, assim como as lembranças dos teus beijos e o calor do teu corpo na cumplicidade da alma. Saudades de tudo ou de nada. Recife. Out/04.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Meu querido

Hoje o vento sopra forte e o mar está bravio. Chove. O dia é feio e triste. Estou lendo um belo livro que se intitula "Cartas a Nelson Algren “Um Amor Transatlântico," a correspondência de Simone de Beauvoir ao seu "amante/marido/amor transatlântico" como assim ela o definia. Uma longa e bela história de amor, vivida entre 1947 até 1964, com encontros anuais de pouco tempo, mesmo que freqüentes.(Apenas uma vez chegaram a passar juntos cinco meses). Desculpe a modéstia, mas percorrendo as páginas do livro, me reencontro muitas vezes, pois estou certa de que a linguagem do amor é a mesma, apenas se repete em idiomas diferentes. Questiono? Como pode Simone, mulher intelectual, cética¸ prática e amoral ter tão grande potencial de amor? Então caro amigo, o amor invade qualquer praça, mesmo que as defesas sejam muitas. Foi também, para mim, uma descoberta de muitas coisas que eu ignorava a respeito da vida intelectual e política francesa daquela época. Um livro rico, pois as cartas são em forma de diário, um relato do dia a dia de Simone, Sartre e amigos. Ela queria que o seu amigo estivesse a par de tudo o que lhe acontecia, das alegrias e tristezas. Também escreve da sua paixão pela cidade de Paris, fala dos seus parques floridos na primavera, da aridez do verão, quando fugia sempre para uma região onde o mar estivesse presente e da crueldade do inverno, das brumas, do frio, dos cafés, das noites alegres e de outras solitárias, quando ela então chorava a falta do seu amor, do calor de um corpo, etc. Uma das coisas mais belas entre tantas que Simone escreve para Algren, é quando ele reclama que está cansado dos seus abraços frios, pois tem no meio um oceano e ela lhe responde: "Não se preocupe, breve eu estarei por inteira com você e então os abraços serão quentes como um vulcão". E assim, vou me encontrando em tantas coisas que a gente diz quando quer bem, está longe, sente falta e saudades. Com a minha total liberdade para contigo posso dizer: estou me reencontrando no tempo passado, nas muitas e muitas cartas que escrevi, quando falava de ternura, amor e sentimentos. Não quero ser pretensiosa, mas a linguagem dos amantes é realmente universal, e estou muito feliz de saber que uma mulher brilhante e intelectual como Simone, pode ser tola e amorosa, quando fala de saudade e da falta que sente do amado. E assim, vou relembrando com mais cor os grandes e bons momentos da nossa amizade. Quando a gente envelhece, o corpo e o espírito ficam mais carentes, de contatos, toques, palavras e afetos. De tudo isso sinto muita falta. Não sei no teu caso, mas para mim está sendo muito difícil, pois apesar dos filhos, eles estão voltados para si mesmo e suas vidas, o que é natural. O mundo, no caso o meu, torna-se limitado. Gostaria muito de ter um amigo para conversar, ri um pouco da vida e das coisas. A amizade é muito importante e na medida em que o tempo passa, ela vai se tornando essencial para o aquecimento dos corações. Abraço-te carinhosamente, com saudades. Praia de Boa Viagem. Ina Melo.

Meu querido

Escrevo-te de um tempo passado, onde tudo está partido em mim, aos pedaços. Os fragmentos voaram de um lado para o outro e falta-me coragem para recolhê-los. Assim, vejo hoje a minha vida se diluindo. Desejos e sonhos se afastando. Será isto a velhice, estação certa a que todos chegaremos um dia? Sei que ainda insisto em me agarrar a um pouco de tudo o que tive. Mantenho uma brava luta para estar na minha casa, num lugar privilegiado que Deus me ofereceu. Daqui, de onde escrevo, vejo o mar que poderei alcançar quando quiser – ele está ali a poucos metros. Conheço todas as suas nuances, vejo-o sempre com o olhar de uma mulher apaixonada, mas temerosa. Por quê? Antes, corria para ele, enfrentava-o, lutava mesmo. Gostava quando medíamos forças. Claro, o vencedor era sempre o mais forte, então me deixava levar nos seus braços à deriva, sem me importar com o tempo. Hoje, resisto e me acovardo. Sinto-me insegura, ainda assim me entrego com volúpia às águas mornas que acariciam o meu corpo Ah! Tempo feliz. Recife, Maio/05

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Meu querido

Hoje acordei nostálgica, saudosa, triste, quase infeliz. Abri os olhos e vi a cama grande demais para uma mulher frágil e só. Procurei algo tocável que me trouxesse você de volta e nada. Abracei-me com os travesseiros e voltei a dormir. Então aconteceu: sonhei que estavas comigo, como no passado. O mesmo homem viril, quente e carinhoso. De leve, toquei com as pontas dos dedos o teu peito e corri suavemente a linha dos pêlos que me levaram, aos mistérios do sexo. Acariciei o meu objeto de prazer. Fechei os olhos e pensei nas loucuras de ontem. Retornei ao hoje, alisei os teus escassos cabelos prateados, senti o arfar do teu coração, vi um intenso brilho nos teus olhos e na tua boca entreaberta vagarosamente introduzi minha língua, bebi tua saliva num longo beijo. Deitei-me sobre ti e senti o teu calor. Tua virilidade estava qual uma lança pronta para entrar em combate. Aí acreditei. Sim, estavas comigo, igual a tantas outras vezes. Senti teus braços me enlaçando e mãos macias passearam sobre o meu corpo. A mulher renasceu. Lágrimas rolaram pela minha face e bebestes as pequenas gotas salgadas. Rimos e choramos no reencontro da paixão. Calmo, deixaste a mulher explodir na sede do desejo. Fiquei a tua mercê. Tua boca quente sugou os meus eretos mamilos deixando-me trêmula de prazer. Sabiamente desbravavas a fêmea sedenta. Fizeste de mim o objeto do teu prazer, da tua luxúria. Como das outras vezes, a mulher rendia-se ao homem, igual ao desabrochar de uma flor. A princípio, vinhas calmo, depois explodistes qual um vulcão em fúria. A seiva quente corria misturando nossos sabores. Abri os olhos, vi o teu rosto sereno, com a paz que só o amor oferece. Prendi meu corpo junto ao teu. Adormecemos num longo abraço, talvez para nunca mais acordar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Querido Amigo

Hoje é o teu aniversário. Gostaria de romper as barreiras do tempo e retornar a um passado longínquo quando, junto com alguns amigos, almoçamos num pequeno restaurante. Guardo, ainda comigo, a mensagem carinhosa que escrevestes no guardanapo. Naquela época éramos jovens, alegres e felizes. Brincávamos com a vida e quem sabe, talvez, com sentimentos. São quase três décadas passadas e a nossa amizade não mudou, sim, posso dizer: Somos amigos, mesmos que tenhamos vivido em mundos diferentes, num turbilhão de trabalho e problemas. Sempre arranjavas um pouco de tempo para mandar a amiga distante, uma mensagem de amizade e ternura. Dificilmente, as pessoas acreditariam que, por décadas e décadas, pudéssemos manter acessa a chama de uma verdadeira amizade, apenas com diálogos íntimos, falando do mundo e de nós. Homem e mulher, unidos sem contatos físicos, cerceamentos pessoais, cobranças e tantas outras coisas. Cada dia que passa, quero-te bem de forma límpida e transparente. Deixei a vida passar por mim, seguindo o curso do rio, sem saber quando irei encontrar o mar que me abrigará na eternidade. Quebrastes a rotina da tua vida com o inesperado, mas pelo que sei nada mudou, o que é uma pena. Achei que terias coragem de refazê-la para ser feliz. Hoje, estamos com muito mais sabedoria por conta dos anos acumulados e podemos falar de nós, de amizade, de bem-querer, sem temer críticas ou insinuações maldosas. Que bom poder declarar o meu intenso carinho por ti. Feliz aniversário, amigo perdido nas galáxias dos meus sonhos.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Carta aos meus amores


Aos meus amores,

Hoje escrevo aos amores sonhados, vividos, passados e perdidos. Quantas vezes o coração pode amar? Alguns dizem que o amor só acontece uma vez. Eu discordo. Para mim, amar é viver e se perdermos o amor, estaremos mortos? Penso que não. Acontece que a intensidade do sentimento não pode ter parâmetros, simplesmente acontece.
Cada vez que amei, era como se fosse à última. Bebia o amor até o fim numa doação total. Muitas vezes não era retribuída com o mesmo ardor, mesmo assim, representava o todo. Passadas décadas e décadas, não posso definir e muito menos classificar qual foi o melhor, o maior, o mais verdadeiro dos amores. Quando se ama, o mundo se fecha num círculo e não vemos nada. Só o objeto do nosso amor. Às vezes, a vida, de forma cruel intromete-se entre nós e dá-se o caos. Deixamos o país dos sonhos, acordando bruscamente para a realidade. O amor acabou. Lágrimas, desespero, desencantos. Aí pensamos! Nunca mais vou amar, ele era o único e verdadeiro. Ah! Que engano!
Adormecida a dor, recomposto o arcabouço do qual somos feitos, eis que pequenos raios de sol rompem as frestas do coração e a vida recomeça. Abrimos os olhos e não vemos mais os sonhos do passado. O céu retoma a cor azul, o verde do mar brilha e as flores tornam-se mais belas. Reiniciamos uma nova jornada. Livres e abertas ao porvir, vamos nós, homens e mulheres desfrutar de um novo amor. Desarmados, abrimos o coração e novamente ele surge.
A princípio temos reservas, medos, ansiedades. Porém o sentimento do amor é tão forte que tudo apaga e sorrateiro, quase escondido, se apossa de nós. Nunca será igual ao primeiro, segundo ou terceiro. É único em cada vez que toma conta do nosso coração. Muda apenas a forma como se apresenta. Na juventude quase sempre se remete à eternidade. Será para toda vida, pensamos. Que nada! Um dia acaba.
O amor também gosta de brincar de bandido, de massacrar, magoar, às vezes até mata. Pode ser responsável ou não, doce ou amargo, fiel ou infiel. Sim, existem amores infiéis, é difícil de acreditar, mas eles estão por aí espalhados, fazendo rir e chorar. Não interessa o rótulo, o bom é amar e ser amado, por isso dedico estas parcas e insensatas palavras aos meus amores de ontem, de hoje, ou quem sabe, de amanhã? Praia de Boa Viagem, agosto/2006.

domingo, 18 de março de 2012

Carta ao Amor Primeiro


Há mais de cinco décadas do nosso conhecimento, acordei recordando um passado perdido nas lembranças do tempo. No mundo mágico e encantado no qual deves hoje habitar, não sei se guardaste a imagem da jovem branca e magra, entre menina e mulher, que por ti apaixonou-se perdidamente. Amor puro e inocente que talvez, nem tu mesmo, soubesses.
Eras para mim naquela época, o sonho materializado do Príncipe Encantado: alto, louro, olhos azuis, inteligente e bonito. Ah! Como sonhamos quando somos jovens e puros! Bem mais velho que eu, tu abusavas de charme para me encantar. Quis tanto te namorar que o sonho materializou-se.
Não sei como aconteceu, pois não conversávamos. Apenas te via da janela, quando passavas. Finalmente, éramos vizinhos. Ouvia o teu vozeirão. Gostavas de cantar e recitar versos e poemas de amor (Shaespeare, Verlaine, Fernando Pessoa). Achava que escrevias para mim. Como somos tolos! E assim enveredei pelos caminhos românticos da poesia.
Sempre gostei de ler e através da tua irmã, permitias que teus livros me fossem emprestados. Eu os lia e os acariciava, pois sabia que tuas mãos os tocavam. Um dia, nunca esqueci, estava a caminho do colégio, quando vi que me esperavas ao pé da ladeira que levava ao Farol. Ao passar, seguraste meu braço com firmeza e te apresentaste. Sabias meu nome, o que estudava e muitas outras coisas, hoje perdidas no esquecimento.
Eu era para ti um livro aberto. Amava-te com o ardor e a pureza da inocência. Para completar, esse amor era proibido, pois minha irmã com quem eu morava, era rígida e te considerava um doidivanas. Na irreverência da juventude, não me importavam dogmas e conceitos. Eras o meu Príncipe Encantado e pronto. Não pensava no futuro. O que é futuro para quem está no início da vida?
Desde então, aprendi a só valorizar o momento, isto permanecerá comigo até o final dos tempos. Passei, não sei se posso dizer passar (tinhas namorada, amigas, uma vida paralela à minha) quase três anos nesse embevecimento amoroso. Eras simbolicamente o meu namorado e não me interessava por nenhum dos jovens que me cercavam.
Pura na minha ingenuidade, a mim bastava só o instante, àquele que oferecias para me acompanhar até a porta do colégio. Por uma única vez, nunca esquecerei, foste me esperar à tardinha, quando o sol mergulhava seus raios dourados na Lagoa. Lembro que mudamos o caminho e ao voltarmos, paramos na avenida, sentamos num banco da praia. Tremia de medo e emoção quando de leve, tocaste o meu rosto com a boca morna e roubaste um beijo, cheio de medos e pecados (o único que trocamos). Naquele tempo era assim. Voltamos para casa e não lavei o rosto.
No fim do ano, quando íamos às festas da praça, sempre que anunciavam a canção de sucesso, Índia, eu sabia que dedicavas a mim (eras louro misterioso Soube através de um amigo comum, encarregado de dar as notas ao locutor). Assim, vivi feliz o meu primeiro amor.
Quando parti para minha cidade de origem, muitas coisas impediram o nosso último encontro. As nossas famílias amigas se despediram na estação, mas tu não estavas lá, que pena! Seria a ultima vez. Mas até hoje guardo na lembrança, quando o trem partiu e vi o teu vulto longe de todos, com um belo sorriso acenando para mim. Que imagem linda para o fim de um sonho!
Por armadilhas do destino, nos anos seguintes, quando eu voltava nas férias, sempre estavas viajando para outras cidades e países. Passei anos me recusando a namorar, pois esperava que o sonho se materializasse.
Um dia, através de uma colega do colégio, recebi a trágica notícia do teu encantamento. Que choque! Quantas lágrimas de desespero. Era o fim da esperança. Um recorte de jornal relatava que: “um jovem e promissor estudante, num passeio pela cachoeira de Paulo Afonso, ao fotografar o véu da noiva, resvalou e caiu desaparecendo no turbilhão de águas límpidas e translúcidas." Ah! Meu querido e impossível amor, que modo lindo de mergulhar num outro mundo.
A partir de então, num departamento do meu coração, fechado á chaves permaneces até hoje quando sigo os caminhos do inverno da vida. Aconteceram paixões e amores, casei, constitui uma bela família, tornei à solidão na qual me encontro, mas as belas lembranças da juventude, todas são tributadas a ti, amor irreal e não concretizado. Praia de Boa Viagem, julho/2006.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Minha Amada do coração


Faz tempo que não me escreves. Sinto falta das tuas cartas-poemas, verdadeiras mensagens de otimismo e amor à vida. O que se passa? Esqueceste o velho amigo? Apesar dos atropelos das minhas crises existenciais e outros tantos problemas, continuo o homem solitário para mim e solidário para com as pessoas a quem quero bem.
Amiga, és o bálsamo que alivia as tormentas da minha existência. Vejo-te sempre iluminada, apaixonada pela vida e pelo amor. Saber amar é isso: dá valor às pequenas coisas que a vida nos oferece e isso, sabes fazê-lo muito bem. Nunca te ofereci nada, a não ser uma amizade sedimentada em sonhos e afetos.
Disto soubestes tecer a teia das ilusões tão necessárias para tornar a vida mais fácil de ser vivida. Ah! Quantas saudades dos nossos diálogos espirituais, das trocas de informações políticas e literárias. Só tu sabes com maestria afagar o ego de um homem, levantar sua moral incentivá-lo, dar-lhe força para lutar.
Sou imensamente grato a ti, minha querida, pelas palavras doces e carinhosas que derramas no papel dando-lhes vida, fazendo-o de frio, tornar-se morno e aconchegante. A minha amizade por ti não se mede pela distância, ela ultrapassa todas as milhagens deste vasto mundo, com a força magnética do pensamento.
Sou feliz por ter o privilégio de usufruí-la. Que pena não ter a mesma intensidade para devolver-te em dobro esse afeto. O amor, nas suas diversas fases tem uma história, mas a amizade ela é única, plena e real.
Sou grato a ti amiga pelas cascatas de ternura e carinho que me ofereces sem cobrar nada em troca. Não me abandones. Ambos nos precisamos, mesmo distante anos luz um do outro. Abraço-te com ternura e saudades.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Meu querido




Despertei hoje envolta num mar de saudades. Na maciez dos lençóis senti a tua presença. Levanto-me e vou ao teu encontro. É quase dia. Nuvens de gaivotas sobrevoam as areias brancas da praia e no céu brilha solitária uma estrela. Ela me faz companhia: ambas estamos só na imensidão da distância que nos separa.
Sento, pego a caneta e no papel derramo meus sentimentos. Bem que poderias ser este ponto luminoso, frio e distante. Estamos tão longe! Eu, aqui na terra e tu, só Deus sabe aonde. Mas, por que tantas saudades? Faz muito tempo que não sonho contigo.
O passado deixou-me marcas inapagáveis e por mais que tente não consigo diluí-las. Para cada dia, existe um novo amanhecer e a certeza de que nada se repetirá. Por que insisto tanto em revolver sentimentos e emoções há tanto tempo estagnados no meu coração? Eis para mim o grande mistério do amor. Sempre que me refugio na interioridade do meu ser te reencontro.
A força do pensamento é tanta que chegas a materializar tua presença. De olhos bem abertos, vejo-te surgir das espumas brancas do mar. Estás pleno, vigoroso e abres os braços para mim. A idade da razão adverte: cuidado: não mistures o ontem com hoje. Foram tempos passados e vividos, jamais se repetirão. Não importa, somos feitos de sonhos e ilusões.
No meu delírio vespertino vou ao teu encontro. Damo-nos as mãos e leves quais pássaros alados, saímos caminhando sem destino. A praia deserta, o sol preguiçoso afastando as cortinas das pálpebras, ri para nós. Ele sabe que a solitária estrela tomou emprestado o corpo do homem e veio aquecer o inverno da apaixonada e sonhadora mulher. Bom dia amigo, o mundo ainda será nosso. Abraços saudosos. Praia da Boa Viagem. Nov/04

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Querido Amigo



Escrevo esta carta acompanhada por um piano, onde músicas românticas estão sendo dedilhadas. Eu, com uma solitária taça de champanhe, me delicio com os velhos e nostálgicos boleros. Faço um retrocesso e todo passado vem à tona. Que bom é a gente ter o que recordar, concordas?
A canção diz: “momentos são, iguais aqueles em que eu te amei... palavras são iguais àquelas que te dediquei..” e continua, dizendo que as palavras foram escritas na areia e o mar chegou tudo apagou, palavras levam o mar"... Por isso, prefiro firmá-las no papel, assim permanecerão para sempre.
De ti, meu querido, tenho o melhor da mocidade para recordar. Fostes tu que me iniciaste nos caminhos do amor e dos pecados da vida. Foi contigo que dancei agarradinha, colada dos pés à cabeça, pela primeira vez. Corpos e almas unidos ao som de melancólicos boleros, tangos e canções.
Sou feliz sim, pois tive uma vida plena de carinho e afeto. Bens materiais sempre foram escassos para mim, mas o calor humano, a ternura e, por que não, o amor, sempre estiveram presentes na minha vida. Por isso, não guardo rancores, nem amarguras.
Hoje, enveredando pelos caminhos do esquecimento, quando começo a me sentir uma mulher com uma vida plena, não me preocupo, pois guardo comigo uma enorme reserva de sonhos e esperanças para oferecer a quem se interessar. Saudades. Setembro/99.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Amigo do Coração


Mais uma vez visito solitária estes belos jardins que foram à razão de viver do grande Monet. Todas as vezes que venho a este meu país do coração, corro para este refúgio lindo e tranqüilo, onde posso reencontrar os meus fantasmas e fantasias do passado.
Não sei quantas vezes eu vim aqui, mas nunca espero que seja a última. Talvez só você possa entender essa minha fixação por tudo que diz respeito a este mundo, para mim, mágico e encantador.
Hoje é um dia qualquer do mês de outubro e o frio se faz presente, mas em compensação o sol brilha com todo o seu fulgor iluminando os jardins, cheios de flores e borboletas esvoaçantes.
Estou em plenitude total com a natureza. Sou uma velha senhora radiante, talvez por estar em paz comigo mesmo. Vendo estas pequenas cidades, fico admirada com o seu ar bucólico e provinciano tal qual era no passado e lembro das narrativas de Proust. Que bom! Nem sempre o moderno recompensa.
Lembrei muito de um frio inverno quando resolvemos vir visitar o Museu e os jardins estavam fechados, ainda assim, enfrentamos o intenso frio e nos deliciamos passeando abraçados debaixo de um belo e brilhante sol. Que bom é a gente poder armazenar no coração os bons momentos que tivemos.
Acho meu querido amigo, que viver é isso. Poder olhar pra trás e ser feliz com o que tivemos, mesmo que hoje estejamos sós. Por isso, dedico este dia às minhas saudades dos tempos felizes que vivenciei no passado.
Fiz uma frugal refeição acompanhada de um rouge forte e quente, única maneira que encontrei para aquecer o corpo e a alma. Saudades e muito carinho da eterna mulher que não consegue viver sem sonhar. Giverny/Out/2011

sábado, 14 de janeiro de 2012

Minha Amada do coração



O tempo, do qual gostas tanto de lembrar, novamente interpôs-se entre nós. Perdi o fio de Ariadne que nos uniu por tantos anos, deixando passar um período de silêncios e saudades. Agora retornando, reencontro a mulher vivida, dizendo-se cansada, mas firme na esperança e na fé.
Bem, cara amiga do coração estou no inverno da vida numa montanha russa de incertezas e duvidas. As mulheres, como sabes, sempre povoaram o meu mundo e tive delas amor, prazer, ternura e também muitos problemas. Ah! As mulheres!
Entre tantas, uma marcou a minha alma como tatuagem. Às vezes o homem tem uma relação afetiva por muitos anos, ama, desama e tudo se desmancha no ar. O amor foi um fogo-fátuo, passando leve qual uma brisa suave numa manhã de primavera e tão irreal que parece sonho, mas noutros casos, a essência é tão forte e duradoura que o tempo não consegue apagá-lo.
Não sou poeta, mas um homem embriagado da mulher leve e solta, coberta de sol que representas para mim. Hoje, estamos envoltos em névoas, corpos desgastados, cansados de tantas mágoas que a vida nos legou, mas no interior a chama arde no calor que nada fará extinguir.
Que nome poderemos dar a esse sentimento? Paixão! Amor! Não sei minha querida, a amizade e o bem-querer que sentimos um pelo outro, irão vencer todas as tempestades que insistem em povoar o nosso universo.
Quero-te bem com a rigidez das árvores fincadas nas montanhas. O vento forte balança-as, mas não consegue derrubá-las, elas se curvam a sua força e sobrevivem. Eis tudo o que representas para esse homem vivido e apaixonado. Abraços com afeto e muito calor. 2007

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Querido Amigo




O dia amanhece. Nuvens se rompem e o sol invade aos poucos a terra. Que belo é o amanhecer! Um renovar de vida e de sonhos. Gosto quando acordo cedo e à minha volta tudo é silêncio. É a melhor hora para o reencontro comigo mesma.
Na medida em que o tempo passa, a vida torna-se estática, as atividades diminuem, os interesses se modificam e assim podemos dispor de mais tempo para nós. A mente fica mais clara e o passado pode ser revisitado sem mágoas, nem rancores. Feliz de quem viveu o ontem e algo de bom tem para recordar. O futuro, antes tão esperado já não causa temores nem apreensões. Ele com certeza virá sem grandes surpresas ou expectativas.
Sinto que a vida anoitece. Espero por algo que não sei se virá ou não. Talvez por ti, amigo querido a quem não vejo há tanto tempo. Poderias chegar pelo mar tão plácido à minha frente, trazendo contigo o cheiro da maresia. Teu corpo molhado teria o sabor das algas. Abraçarias a mulher ainda morna do sono e o choque térmico aconteceria explodindo as emoções. Renovarias a vida com a tua presença, serias a luz mostrando que ela ainda pode ser vivida. Trarias a esperança, a fé e a perspectiva de uma felicidade renovada.
Assim, não teria mais sonhos, tudo seria real e estarias comigo. Vem meu querido, espero-te coberta de sol e sal. Serás o meu dia e noite, meu norte e meu sul. Vem, estou carente de afetos e ternura. Praia de Boa Viagem.Set/05.